tag:blogger.com,1999:blog-64405365647520421342024-03-14T07:57:03.480+01:00Poesia da vida quotidianaAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/16664600305123071045noreply@blogger.comBlogger8125tag:blogger.com,1999:blog-6440536564752042134.post-81769539517422366862014-05-08T14:19:00.000+02:002014-05-15T11:40:19.488+02:00O bolo de aniversário, os presentes e a identidade da aniversariante<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Quando
minha filha pediu, para o seu aniversário de 7 anos, um bolo com a “Galinha
pintadinha”, agarrei a ocasião como se fosse a última tábua de salvação nesse
oceano conturbado das identidades femininas em construção. Eu sabia o que estava
por vir: as montruosas, horríveis e anoréxicas “Monster High”. Elas não
tardaram a aparecer no horizonte, vieram na bolsa do Papai Noel que, para
contrabalançar o fenômeno gótico-pop-brega, trouxe também pijamas e pantuflas
(sim, pantuflas!) para Camille, aquela boneca mimosa e comportada com carinha
de boa aluna de escola particular. Isso ela não tinha pedido, claro, mas Papai
Noel recebeu uma outra cartinha paralela pedindo pelamordedeus que ele fizesse
algo contra aquela onda maléfica que estava inundando o ambiente, tal um
tsunami cor roxo-caixão. O pijama e as pantuflas eram rosa-bebê.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-zsnHpBqsmeA/U2tww_R99qI/AAAAAAAAAFk/hVNd1dL1cvE/s1600/G%C3%A2teau+7+ans.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-zsnHpBqsmeA/U2tww_R99qI/AAAAAAAAAFk/hVNd1dL1cvE/s1600/G%C3%A2teau+7+ans.jpg" height="320" width="300" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR">O bolo da Galinha pintadinha</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Muitas
fases, imagens, identificações se passam nessa construção complexa da
identidade feminina. Ela já foi Hello Kitty, fofinha, rosinha, com lacinho na
cabeça, antes de se tornar uma princesa, esperando o príncipe encantado numa
carruagem colorida. Enfeitada de princesa, toda rosa, mas não rosinha, ela
estava lá sustentando a imagem de uma dama que já não mais usava lacinhos para
si mesma mas para um outro. O bolo foi uma carruagem, porque a dança das marcas me
incomoda e Hello Kitty já havia conseguido terminar com minha paciência para todo
e qualquer merchandising. Não havia nenhuma das princesas clones no bolo, nem a
amarela, nem a azul, nem a rosa, nem a verde. Enfim, elas apareceram
furtivamente nas velas... Mas foram logo queimadas em praça pública e empaladas
num palito...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-txIhweMsebQ/U2tzKNUzRII/AAAAAAAAAGI/w174o_-tz6U/s1600/Hello+Kitty.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-txIhweMsebQ/U2tzKNUzRII/AAAAAAAAAGI/w174o_-tz6U/s1600/Hello+Kitty.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
O bolo da Hello Kitty</div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ZE57-sS2tF4/U2tzNnyevsI/AAAAAAAAAGQ/6ic9euVTPBA/s1600/Carruagem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-ZE57-sS2tF4/U2tzNnyevsI/AAAAAAAAAGQ/6ic9euVTPBA/s1600/Carruagem.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR">A carruagem da princesa</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Depois da
princesa, veio o mundo encantado da bailarina, também rosa, mas algo assim mais
determinado e equilibrado na ponta dos pés da feminidade, com saias de filó,
collants, e o corpo desenhado debaixo do rosa-bebê. O bolo da bailarina tinha
saias. Saias rodadas, daquelas que voam e que mostram algo mais do que fofura.
Vestida de bailarina, cabelos presos, paetês, saia de filó transparente e
collant rosa, ela estava pronta para o espetáculo do mostra-esconde típico que
vai se inscrever como leitmotiv feminino.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-V891dToQc8s/U2tzrG80suI/AAAAAAAAAGY/vtxJfhZxgIg/s1600/IMG_3077.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-V891dToQc8s/U2tzrG80suI/AAAAAAAAAGY/vtxJfhZxgIg/s1600/IMG_3077.jpg" height="320" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR">O bolo da bailarina</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Até aí, as
bonecas seguiam o ritmo da música infanto-feminina que tratava do corpo de uma
menina, não de uma mulher. Camille, a tal boneca com carinha de menina
comportada, que não diz bobagens e não pula em poça d’água, apaziguava
incêndios que as Barbies atiçavam. Sim, elas vieram, essas bonecas com cara de
americanas indo para o Spring Break em Fort Lauderdale, essa espécie de prequel
de Pamela Anderson (que deve certamente ter tirado sua inspiração daqueles
seios de plástico enfeitados com um sorriso Colgate).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Na minha
época, e no meu universo, não existiam Barbies. Existiam Susis. Susi era
morena, a minha ao menos era. Era bem mais encorpada e tinha menos seios. A
Susi foi, aparentemente, inspirada por uma tal de Sindy, uma inglesa que
competia com a Barbie e que foi, ela mesma, inspirada por uma tal de Tammy,
americana. A Susi tem uma história interessante, porque, com a mudança e a
modernidade dos materiais – os plásticos, vinis e outros tantos, que invadiram
nossas vidas nos prometendo felicidade eterna – as modificações das formas da
boneca foram no sentido de deixá-la mais gordinha. Parece incrível que no ano de 1975, quando a moda usava cabelos longos, hippies, corpos magros por utopias e drogas, a Estrela tenha decidido desenhar um rosto mais rechonchudo
para a nossa Barbie nacional. Mas, justamente, ela não era Barbie, era Susi. O
fato é que Susi tinha, para mim, a cara da minha mãe. Ela tinha a aprência de
mulheres normais, acessíveis, e nem por isso ela deixava de ser bonita. Não sei
o que aconteceu com a Susi depois dos anos 70 porque deixei de brincar de
boneca e quis, ao invés disso, o cabelo da Paula Toller quando o Kid Abelha
começou: curtinho e descolorido. Bom, o curtinho só fui ter coragem com mais de
20 anos e o descolorido, nunca... Minha imagem de cantora do Eurythmics ficou só
na fantasia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-BkxJ5aXRXBo/U2txF2c-MII/AAAAAAAAAFs/5-q5jJhQAQM/s1600/Susi.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-BkxJ5aXRXBo/U2txF2c-MII/AAAAAAAAAFs/5-q5jJhQAQM/s1600/Susi.JPG" height="130" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR">Susi</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Depois da
Camille, que teve seu tempo de glória, veio a Idalina, que ainda está durando,
apesar de ter sido um tanto vampirizada por mostrengas góticas. Idalina é uma
boneca “do mundo”, como se diz aqui na França. Isso quer dizer, com uma
identidade cosmopolita, um tanto quanto ela deve se achar também com essa mãe
aqui e com sua dupla nacionalidade. Cidadã do mundo, ela se apaixonou por uma
coleção onde as bonecas vêm de outro lugar: Espanha, Japão, Austrália, África
(eu sei, todos são países, menos a África que, numa só palavra, vira uma
amálgama negra vestida de roupas coloridas...). Mas, enfim, elas são
interessantes porque são imagens do outro, do outro nela. Então, como mãe (e toda mãe est</span>á espreitando para dar o bote), fiz pesar a balança para o lado da
espanhola, Idalina. Não era loira, ponto pra ela; não era magra, ponto pra ela;
tinha olhos castanhos, ponto pra ela; ela vinha com um livro dentro da caixa,
ponto pra ela; ela era latina, pontíssimo pra ela. Pronto, escolhemos Idalina e
lemos sua história de menina pré-adolescente filha de mãe solteira na Espanha,
mãe essa que devia trabalhar como cantora de flamenco para ganhar a vida. Vida
difícil, a de espanhola. Idalina trouxe com ela roupas de flamenco, leque, xale
e uma linda rosa vermelha para colocar nas madeixas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-MLhLkYnzWQI/U2tx5XelfSI/AAAAAAAAAF0/G896Gs8WiZQ/s1600/camille.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-MLhLkYnzWQI/U2tx5XelfSI/AAAAAAAAAF0/G896Gs8WiZQ/s1600/camille.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
Camille </div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-e0H3DOb2QLo/U2tyALWxnlI/AAAAAAAAAF8/AAj_U4m6L_E/s1600/Idalina.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-e0H3DOb2QLo/U2tyALWxnlI/AAAAAAAAAF8/AAj_U4m6L_E/s1600/Idalina.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Idalina</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Até que
chegou a época de pensar no bolo de aniversário de 7 anos. Justamente naquele
ano ela havia descoberto o universo todo em roxo das Monster High com uma
amiguinha que já se interessava por aqueles esqueletos fantasiados. Fiz o bolo,
inclusive, dessa amiguinha, e o tema escolhido foi, logicamente, esse. Tentei
fazer o máximo para tirar do bolo de aniversário a cara de bolo de Halloween
para o qual o tema tende. Fiz o que pude e não saberia fazer duas vezes. E eis
que, de repente, num surto nostálgico de sua condição infantil que se vai com o
tempo, apareceu no horizonte a Galinha Pintadinha vestida de capa e espada para
lutar contra jovens anoréxicas. Gordinha como é, a tal galinha azul não teve
muita dificuldade para quebrar os ossos das góticas de salto e o bolo saiu
colorido, florido e com a galinha que estava ali para significar em cacarejos que
a infância ainda duraria um tempinho. Ufa! Mas a tal galinha tinha uma outra
carta na manga. Ela era brasileira e nenhuma das amiguinhas de minha filha
conhecia a criatura, coisa que pedia explicações e a anfitriã mirim se
esmerava a discorrer sobre sua identidade brasileira, aquela que ninguém tinha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-5_C1leeN7JY/U2t0j36sHqI/AAAAAAAAAGk/gzXwnDzJVoI/s1600/Monster+high.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-5_C1leeN7JY/U2t0j36sHqI/AAAAAAAAAGk/gzXwnDzJVoI/s1600/Monster+high.jpg" height="255" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR">Monster High</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-qehiiUGPy8Q/U2t069U-mrI/AAAAAAAAAGs/xW-Zmebttk4/s1600/G%C3%A2teau+6+ans.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-qehiiUGPy8Q/U2t069U-mrI/AAAAAAAAAGs/xW-Zmebttk4/s1600/G%C3%A2teau+6+ans.jpg" height="312" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR">Bolo Monster High da amiguinha</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Os
esqueletos foram enterrados. Como puro efeito de moda que são, foram parar numa
caixa, caixa que foi parar no fundo do armário, armário que é regularmente
inundado com mais brinquedos, como pás de cal. E eu vou deixando o tempo
decompor esse fantasma, não tenho hábito de evocar almas penadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">E então já
vem vindo a época em que as questões relativas ao tema do aniversário e,
lógico, do tão falado bolo, recomeçam. A marca atual que faz sucesso entre as
meninas da escola vem da Argentina, pela Disney, e se chama Violetta. Bom, nada
contra uma argentina que, comparada à minha querida Idalina, tem lá também seu
sangue latino. Mas, mas, mas, puro produto Disney, princesa latina, ela ocupa o
lugar de pobre coitada filha de mãe morta e de pai interessado por uma malvada
maquiada. Sim, sim, eu sei porque já assisti com ela esse negócio. Princesa de carne
e osso, dessa vez, nem rosa, nem azul, nem verde, nem amarela : violeta. Essa, cantorazinha de uma espécie de escola de estrelinhas, ainda
traz um outro ideal perigoso que, junto com a magreza da Barbie, sem falar na anorexia das Monster High, invade a
caraminhola das meninas de hoje : o ideal da fama. Fama de qualquer jeito, a
qualquer preço, querem todas ser “star” do star system que as transforma todas
em buracos negros. Ou pior, em melancias, melões, jacas, e quem sabe mais o
quê...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Então,
mamãe coragem pensa e queima os neurônios para propor outra coisa. Pensei: por
que não Paris? Tanta gente sonha com Paris e, nós, nós estamos aqui, então...
Ah, mas a realidade não constrói sonhos... Mas quem sabe o ponto não seja
justamente esse? Tentar sonhar com nossos elementos reais e que possamos assim,
com nossos sonhos, transformar a realidade de fato que nos rodeia? Não sei, mas
quem sabe minha filha venha querer a ser, no espaço de uma festa, a parisiense
estereotipada passeando com seu poodle em baixo da Tour Eiffel, ou como a
parisiense de esquerda tomando seu café em Saint Germain des Près, tão
estereotipada quanto. Não posso deixar de pensar no meu papel e nas minhas
imagens femininas nesse processo, já que, finalmente, gostaria muito mais de
ver minha filha lembrando, de algum modo, Simone de Beauvoir que Pamela-Barbie
Anderson ou Lady-Monster Gaga-High...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-whifZ-LEQw0/U2t2A6RmHMI/AAAAAAAAAG4/Upv-LC9FuF8/s1600/bolo+Paris.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-whifZ-LEQw0/U2t2A6RmHMI/AAAAAAAAAG4/Upv-LC9FuF8/s1600/bolo+Paris.jpg" height="320" width="242" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16664600305123071045noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6440536564752042134.post-27910577434205325432013-06-01T00:11:00.002+02:002013-06-01T00:43:13.719+02:00Parabéns pra você!!<div class="MsoNormal">
<div class="MsoNormal">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esse texto foi o resultado de minha modesta participação da
página de um amigo no facebook, que começou com seu « Bolo da
sexta ». Ele fazia bolos toda sexta-feira, sempre acompanhados dos
deliciosos textos que escreve. Para o aniversário de dois anos de sua
empreitada, resolveu convidar amigos para se prestarem ao mesmo exercício que
ele. Tive a honra de ser a primeira convidada, e de fazer o bolo de aniversário
de dois anos do « Bolo da sexta ». Aqui está ele:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Parabéns pra você, nessa data querida !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foi assim que começou a minha história com bolos…</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu nunca fui muito ligada às artes culinárias. Muito pelo
contrário, a cozinha sempre foi, para mim, a representação por excelência da
submissão feminina. Um « piloto de fogão » era tudo o que eu não
poderia ser. Certa ou errada, ainda não sei, queria outra coisa, já que o tal
piloto representava, no meu imagnário, alguém que renuncia à sua própria vida
para alimentar a vida de outros. Em vários sentidos. Então dei as costas para o
mundo encantado da cozinha… Nunca aprendi a cozinhar, nunca fiz bolos, nunca me
interessei por cores e sabores vindos de lá.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Até que minha filha, Julia, veio mudar os meus hábitos
endurecidos. Não que eu tivesse me tornado um gourmet, ainda menos um chef, mas
comecei a ter um certo prazer em poder fazer pequenas coisas que lhe
agradassem, coisas que vinham também da cozinha. Mas bolos ? Bolos não,
isso nunca. Na verdade, nunca fui muito afeita ao gosto mesmo do bolo, à
tradição de um bolo com café… Poderia até comer um pouco, mas fazer… Fazer era
todo um passo ainda muito prematuro para mim.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Julia fez então um ano e questões relativas a uma festa logo
se colocaram, e a questão central, logicamente, para nós, brasileiros, era justamente
saber como seria o tal bolo de aniversário… Como fazer? Eu, em Paris,
querendo festejar o aniversário de um ano de minha filha, tradição
completamente estranha para franceses, e querendo um bolo, daqueles bem
bonitos, bem no centro da mesa. Já imaginava as fotos, aquelas que guardaria
por toda minha vida, de minha filha soprando as velinhas, as primeiras.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não sabia fazer um bolo, muito menos decorar um, então
encomendei algo que encontrei de mais parecido. Encomendei um
«fraisier», espécie de torta francesa de mousse de baunilha com
morangos frescos. Ele estava bom, mesmo delicioso, mas não era um bolo de
aniversário, ainda menos de criança. Então ficou aquele gostinho de que ainda
faria uma festinha para minha filha como se deve, como fazemos nós, brasileiros.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando vivemos num país estrangeiro temos tendência a nos
apegar a certas imagens que temos do que seria uma certa situação para nós, se
estivéssemos « em casa ». Idealizamos essa situação e nos apegamos a
ela como questão de honra. É uma forma de não se esvair totalmente na nova
cultura, de se guardar uma espécie de bastião último do que seríamos verdadeiramente
no âmago mais profundo. No meu caso, isso apareceu, entre outras, na situação
dos aniversários de Julia. Gosto de fazer com ela exatamente o que tinha e que,
de certa forma, todos temos no Brasil. Pensar no aniversário é pensar na festa,
no bolo, no tema, na decoração até a mínima forminha de brigadeiro, nas
lembrancinhas… Nada disso existe na França, e lá não há a mínima cultura de
festas infantis. Eu, ao contrário, vinha de uma família onde festinhas de
aniversário, mesmo as mais simples, eram cuidadas com zelo, com detalhes, e com
muito sabor. Minha mãe sempre fez, e ainda faz, bolos maravilhosos, e minha tia
– minha segunda mãe – era uma doceira ímpar que decorava bolos maravilhosamente
bem.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Minha identidade passava então pela festa de aniversário, e
a festa de aniversário passava pelo bolo… Tinha decidido que não faria mais um
aniversário brasileiro com tortas francesas, precisava de um bolo, um bolo
nosso, grande e decorado. Procurei durante muito tempo uma boleira brasileira
em Paris, até que encontrei e no segundo ano o bolo foi um bolo brasileiro, ao
menos na aparência. Sim, porque ele não era bom… E então fui pensando,
amadurecendo a idéia de enfrentar o mundo misterioso da cozinha fazendo um bolo
para o aniversário seguinte. Eu queria um bolo bom e bonito, e tinha um ano
para aprender…</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-XZ9C8tsmB9o/UakfY9q1jCI/AAAAAAAAAD8/rRfkW5gTp84/s1600/Fotos+m%25C3%25A3e+126.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-XZ9C8tsmB9o/UakfY9q1jCI/AAAAAAAAAD8/rRfkW5gTp84/s320/Fotos+m%25C3%25A3e+126.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Passando umas férias de verão no
Brasil em agosto, tomei a decisão e pedi à minha mãe, que sabe fazer bolos como
ninguém, que me ensinasse (para sua imensa surpresa, ficou mesmo
boquiaberta !). Incluímos Sônia no projeto, a diarista que trabalha com
minha mãe e que faz bolos decorados para completar o mês. Ela trouxe materiais,
glacê real e uma folha de papel de arroz para decorar. Era uma decorção simples
dirigida a uma iniciante. Chegando em Paris, tentei repetir os ensinamentos e
tudo saiu perfeito (para minha imensa surpresa, fiquei mesmo
boquiaberta !). Não somente o bolo estava ótimo, mas ele também estva
lindo e deixou em mim o desejo de continuar aprendendo. Estava certo, a partir
de então, que os bolos de aniversário seriam todos feitos por mim.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Ninguém acreditava ! Eu, justo
eu, fazendo bolos tão bonitos, tendo tanta paciência para decorá-los ?
Como assim ? Sim, eu, e tinha gostado…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
A partir daí todos os bolos da
casa, assim como todos os bolos das casas amigas foram feitos por mim, e os
bolos viraram uma espécie de desafio. A cada aniversário, cada festa, uma nova
técnica, uma nova receita. Mas sobretudo novas técnicas de decoração. Do glacê
real, passei para a pasta americana, da pasta americana para o buttercream e o
buttercream com merengue suísso. E mais as técnicas evoluíam, mais era
necessário ter certos conhecimentos que, eu, tendo rejeitado tanto pilotar um
fogão, não sabia. Fui pegando então o caminho da cozinha, voltando atrás, mas
não exatamente, porque ela agora era um lugar de festa.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-oTw1cX4cVso/UakfjepWSdI/AAAAAAAAAEE/qnMoijSnTog/s1600/Fotos+m%25C3%25A3e+131.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-oTw1cX4cVso/UakfjepWSdI/AAAAAAAAAEE/qnMoijSnTog/s320/Fotos+m%25C3%25A3e+131.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Hoje é o aniversário do Bolo da
Sexta. Dois anos… Dedico então, daqui de Salvador com a ajuda preciosa de minha
mãe e de Sônia, com todo carinho, um bolo de aniversário no estilo dos meus
primeiros… Os bolos que me reconciliaram com uma parte de mim mesma… Sei que,
de certa forma, a reconciliação é também o espírito das suas sextas perfumadas
de bolo.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Parabéns pra você, nessa data
querida ! <3</div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Tereza<br />
<br />
Para quem quiser, a receita do bolo veio daqui:<br />
<a href="http://www.nlrockrecipes.com/2012/06/ultimate-lemon-cake.html">http://www.nlrockrecipes.com/2012/06/ultimate-lemon-cake.html</a></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16664600305123071045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6440536564752042134.post-60000510253962514582013-02-08T10:54:00.000+01:002013-02-08T11:07:03.775+01:00Um suspiro de cansaço...<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Meios
acadêmicos nunca foram os mesmos, aqueles dos meus pensamentos imaturos e
idealistas. Eles sempre tiveram seu quê de prepotência e autosuficiência com as
quais exibições são tão eficazes. Mas por que razão elas são eficazes, enfim?
Ah, sim, claro, porque existem os tais idealistas imaturos que tomam tais
exuberâncias narcísicas como garantia de trabalho sério...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Meios
acadêmicos transbordam de guerras e picuinhas narcísicas dificilmente evitáves.
Sim, sim, mesmo que não se queira, é de fato inevitável. Basta experimentar
elogiar alguém diante da pessoa errada. Você pode tentar fazer essa experiência,
mas, enfim, pode custar tão caro que não cosidero que valha realmente a pena.
As conseqüências dessa experiência podem seguir você durante anos, ou toda uma
vida...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Meios
acadêmicos sabem racionalizar. As justificativas para a divisão de campos de batalha
narcísica são sempre sublimadas, quase razoáveis. No entanto, você acaba por
saber, cedo ou tarde, que as razões estão mais para “ele roubou minha
clientela/meu aluno/minha mulher” do que para “ele derrubou minha teoria”. A
pior dentre todas é a luta fratricida. É a disputa pelo amor e reconhecimento
de um pai qualquer e, ao mesmo tempo, a luta pela sucessão desse pai. “O pai
eficaz é o pai morto”, já dizia um deles, o que, nesses casos, aparece de forma
mais do que clara. Nada melhor do que a morte do pai para que as filiações
apareçam e, com elas, a dilaceração das frátrias em tantos clãs distintos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Meios
acadêmicos são clânicos, com uma diferença: em organizações sociais clânicas há
uma certa mestiçagem porque, normalmente, pratica-se a exogamia. O que se
pratica em Universidades e meios afins é a endogamia, o que causa uma série de
deformações aleatórias, mas esperadas. Repetições estéreis, discursos
incompreensíveis, hermetismos autofágicos. Interdisciplinaridade, ou qualquer
outro tipo de inter qualquer coisa, é somente uma figura retórica cuja função é
a de envernizar uma crosta de velhos pensamentos empoeirados e caquéticos.<o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT-BR"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-l51IentdyCc/URTOIMWMjPI/AAAAAAAAADc/AlLXnkhCHwk/s1600/quino+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-l51IentdyCc/URTOIMWMjPI/AAAAAAAAADc/AlLXnkhCHwk/s1600/quino+3.jpg" /></a></div>
<span lang="PT-BR"><br /></span>
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Meios
acadêmicos são sistemas autosuficientes. Tudo o que possa vir enriquecer ou
ilustrar quaisquer ruminações teórica é tido imediatamente como ameaça. É
preciso que a atividade de ruminante intelectual continue tal qual ela sempre
esteve, senão ela não se reconhece. A tentativa de introdução de elementos externos
normalmente culminam no fechamento ainda mais radical do sistema. Um tanto
quanto fronteiras de países europeus de extrema direita...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Meios
acadêmicos de vez em quando emperram quando vernizes empolados não conseguem
mais esconder a verdadeira face crua do que se trata ali: de si. E é uma
questão de vida ou de morte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Meios
acadêmicos continuam os mesmos. Eu é que mudei.<o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT-BR"><br /></span>
<span lang="PT-BR">(o desenho maravihoso, é de Quino)</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16664600305123071045noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6440536564752042134.post-68683689550783225032013-02-07T18:28:00.000+01:002013-02-08T10:25:18.165+01:00O carnaval e a vida...<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Minha
gente, carnaval vai comer solto em Salvador a partir de quarta-feira... E eu
aqui vendo a banda passar pela janela do meu computador... Eu até que iria ver
uns e outros só pra ter essa sensação boa de dançar solta s</span>ó de shortinho
jeans, tênis e camiseta... Aliás, quem já foi ao carnaval de Salvador sabe: o
tênis do carnaval vira cinza na quarta-feira de cinzas... Vai pro lixo... Eu
tinha um Le Coq Sportif lindinho que usei num desses carnavais da vida, não
tinha outro e não quis sair pra comprar... Faleceu...</div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Nunca conheci ninguém em Salvador que tivesse
uma relação simples e límpida com o carnaval. Ama-se e detesta-se carnaval várias
vezes na vida quando se vive em Salvador. Primeiro: porque o carnaval em
Salvador é toda uma cultura e nem é parelela, é imbricada em cada curva da
cidade e dos corpos que nela vivem. Segundo: porque o apelo do corpo, da
liberdade, mesmo que ilusória, acaba sempre por convercer os mais
recalcitrantes que vão pelo menos uma vez na vida ver a banda do Olodum passar,
e ainda podem dizer que é "cultura", e não das menores, cultura
"afro". Quem nunca foi na rua ou, se a rua fosse demais, num
camarote, assim "só pra ver"? Quem nunca dançou o
"requebra" ou o "segura o tcham" "só pra rir"?
Quem nunca aproveitou o carnaval pra beber, fumar, cheirar e se dar a
experiências e contatos imediatos do terceiro grau? Terceiro: todo mundo j</span>á foi
atrapalhado um dia na vida pelas festas infindas em Salvador. Yemanjá, Bonfim,
carnaval, ensaios, lavagem daqui e dali, dia de santo, que, na verdade, são vários
nomes da mesma coisa. Quem nunca ficou preso num congestionamento em Amaralina
por causa dos desvios da festa de Yemanjá? Quem nunca precisou entrar em Ondina
no carnaval sem a conta de luz e foi barrado? Quem nunca teve um compromisso na
escola, faculdade, trabalho, num desses dias e teve que passar horas resolvendo
o quebra-cabeça só pra poder chegar? Chegar eu digo, porque o atraso é obvio.
Quem nunca teve um (a) namorado (a) daquele tipo que termina antes pra voltar
depois do carnaval? Ou aquele tipo que some simplesmente de quarta a quarta? Ou
aquele que tem o bloco como um compromisso religioso e, faça chuva ou faça sol,
doente, morrendo, sob ameaça, ele (ela) vai pular? E quem nunca foi esse tipo
de namorado (a)? Então, quem, que tenha vivido em Salvador, pode dizer que
escapou do carnaval?</div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Criança, morava nos Barris e ia com meus pais
na praça da Piedade ver passar o Jacu! E o pessoal do Traz os Montes se vestia
de macacão de brim! Comia picolé de limão da Kibon e me interessava mais pelos
camaleões nas árvores do que pela travesti que dançava no Jacu. Aliás, quem era
mesmo aquela?? Era Valéria?? Afro, afoché, apache, travesti, e chiclete (que já
existia), dava tudo no mesmo, era tudo batuque, barulhada ensurdecedora quando
o trio elétrico passava perto e fazia o coração saltar. As fantasias, as
mortalhas, as máscaras faziam do carnaval algo de que gostava e tinha medo. A
loucura fascina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Cresci, não gostava de bloco, também meus pais
nunca me dariam dinheiro pra sair em bloco! Logo eu, que morava logo ali! Ia de
pipoca com minha prima Tiu-Tiu. Naquela época, de pipoca dava. De dia, Campo
Grande, de noite Barra. E quando dava fome, sempre tinha um vendedor de melancia
no pedaço!! Melancia mesmo!!! Como pode, não é??? Pois é, a sensação de comer
uma melancia tranquilamente sentada no farol da Barra, com a brisa do mar e o
carnaval fervendo logo ali na frente era mesmo algo de surreal... Deve ser por
isso que era tão delicioso!<o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT-BR"><br /></span>
<span lang="PT-BR"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-rR2yGEB9Ir8/URPlDHuCt7I/AAAAAAAAADM/zLW6Ap4uksk/s1600/Circuito-Barra-Ondina-no-Carnaval-de-Salvador.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="198" src="http://3.bp.blogspot.com/-rR2yGEB9Ir8/URPlDHuCt7I/AAAAAAAAADM/zLW6Ap4uksk/s320/Circuito-Barra-Ondina-no-Carnaval-de-Salvador.jpg" width="320" /></a></div>
<span lang="PT-BR"><br /></span>
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Já me aventurei na Praça Castro Alves... Pra
nunca mais... Aquele lugar é incontrolável, e naquele dia entendi que minha
vida valia mais do que certos prazeres fugazes. Mas Carlos Gomes era possivel,
lá no Clube de Engenharia com meus irmãos, minhas ex e atuais cunhadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Minha bermuda preta e branca que detestava,
porque parecia de palhaço, era o uniforme perfeito pro baile do Baiano de
Tênis, o "Preto e Branco" justamente. Arrumei uma função louvável pra
quem só tinha mesmo o destino de pano de chão. E o Português também não ficava
pra trás. </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Í</span>amos, Tiu-Tiu e eu, e aprontávamos todas! Era muito bom! Os bailes
eram muitos e eram divertidos. E, francamente, pra um bando de jovens afoitas,
que a música fosse afro, dance, hip-hop, qual diferença faria? O importante
mesmo era saber se eles iriam também! Pra isso, nada melhor do que aqueles clubes.
Hoje em dia não existem mais, nem os bailes, nem os clubes.</div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">E então veio a fase rock, comunista, revolucionária,
militante de grupo ecológico. E o carnaval não estava mais com nada, o neg</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">ó</span>cio
era Titãs na Concha, mesmo sozinha, gritando cabeça dinossauro. Geração Titãs,
como dizia meu irmão, pra encher o saco, claro, mas ele não entendia que soava
como reconhecimento. Cantava e, convidada por um amigo para ser seu par num
trio, disse não. Jovem tem convicções e eu era roqueira! Talvez essa seja a
unica decisão na minha vida em que voltaria atrás se pudesse... Não seria
provavelmente uma Mercury, mas teria me divertido certamente e hoje sei que se
divertir na vida é coisa séria.</div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Depois as terras sem carnaval foram meu porto. De
vez em quando, quando a vontade de me conectar com Salvador é mais forte do que
o que a praia de Vilas pode me oferecer, vou ver o carnaval na rua. Vou ver o
Olodum, dizendo a mesma coisa que os "cultos", vou num camarote em
Ondina, mas a vontade de botar o pé no asfalto sempre toma a rédea e sempre
acabo "descendo", pra dansar assim, de tênis no chão, solta. Eu que
nunca fui de bloco, saí em um, fui no Crocodilo pra ver Daniela e levei um
bocado de gente comigo. É meio punk, confesso. Ver aquele povo do lado de fora
com olho de lobo mau, seguranças com gestos de lobo mau em cima do povo, e você
ali, de abadá personalizado pela costureira da sua rua, achando que está
protegido do mundo lá fora... Bloco é o condominio fechado do carnaval...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">E o carnaval ficou como símbolo, assim como as
praias e as andanças que fazia entre Vilas e Jauá (sim, sim, eu andava de
Villas até Jauá, ou até onde conseguissem as pernas e o estômago, mas essa é
outra história)... Da fase rock me sobrou uma certa aversão pelo axé. Mas ainda
assim, de vez em quando, ouço e danço, porque é uma forma de amar Salvador.
Sim, Salvador é um monte de coisas, de outras coisas além do carnaval. Mas o
carnaval está mesmo no sangue daquele lugar, nas veiais, no ar, na paisagem,
dentro das cabeças, nos pés, nas cadeiras, nas vidas. Na minha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Acho que o prazo de validade do meu </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">ú</span>ltimo
carnaval está acabando. Humm, acho que da pr<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">ó</span>xima vez vou de Ivete...</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16664600305123071045noreply@blogger.com0Salvador - Bahia, Brésil-12.9703817 -38.512382-12.9703817 -38.512382 -12.9703817 -38.512382tag:blogger.com,1999:blog-6440536564752042134.post-65318074378186032402012-11-24T10:35:00.001+01:002012-11-24T10:45:04.625+01:00Barris<!--[if gte mso 9]><xml>
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</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
<span style="text-indent: 34pt;">Tinha
prometido ao meu amigo Cecé que iria escrever sobre os Barris um dia, como ele
escreve sobre a cidade baixa, assim, de uma forma poética, com lembranças
misturadas a sentimentos… Mas será possível que se tenha lembranças sem
sentimentos ? Ou seriam elas lembranças porque são carregadas, inundadas
deles até a raiz ? Talvez... Talvez a memória seja mesmo algo puramente
sentimental...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Esperei muito
para poder começar a escrever sobre os Barris... É como se fosse um domínio
sagrado, intocável. Em todo caso, sensível, e muito. Talvez um pouco de medo
dos sentimentos que me invadem, mas ultimamente não pude evitá-los... Um
apanhado de eventos e encontros me fizeram entrar num túnel do tempo do qual
acho que ainda não saí. Pensei então que não deveria existir melhor momento do
que esse para falar dele...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Barris…</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Foi lá que fui
parar quando cheguei naquela terra que seria a minha de adoção. Pouquíssimas
vezes na minha vida assumi que era carioca… Minha mãe detesta essa minha
rejeição pelo Rio de Janeiro... Não saberia dizer a razão, talvez simplesmente
pelo fato de que era aquela a minha terra, não outra, na alma, no destino,
maktub. Salvador, com todas as suas vogais abertas e seus oxentes parecia ter
sempre corrido nas minhas veias. E de certa forma sim… Meu pai, baiano e
soteropolitano de Brotas (sempre adorei isso de ser
« soteropolitana »), sempre tinha mil histórias para contar, de
quando ainda passava bonde, de quando o centro da cidade ainda era acolhedor,
dos carnavais antigos, dos pratos feitos por minha vó Cecé, das incursões
políticas de meu avô no PTB da época, das praias da Ilha, das peraltices de
quando ele era criança lá em Brotas… Minha vó sabia fazer um ensopado de mamão
verde que ela usava como se fosse chuchu e que ela mandava os meninos pegarem,
logo ali, no quintal da casa... Da casa de Brotas... Nunca conheci essa casa,
acho que ela nem existia mais quando chegamos em Salvador, mas ela sempre viveu
no meu imaginário de criança, um casario daqueles coloniais com suas janelas
imensas e seus corredores infindos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Eu sempre fui
ávida de histórias alheias, podia ouvi-las por horas a fio. Talvez por isso
faça hoje o que eu faço: só escuto. Um conto contado por seu dono tem sempre
uma riqueza escondida, a riqueza de revivê-lo, de voltar lá e de ver de novo
tudo aquilo, de ver e de compreender onde batia o coração.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Minha tia
Lyra, irmã de meu pai, também contava muitos deles. Diferentes, mas contava
Salvador de uma época em que tudo parecia bem mais fácil. Onde o medo não era
tão banal e tão quotidiano. Ela contava histórias de outros lugares também, e
tinha fotos... Fotos em preto e branco como aquelas das estrelas de Hollywood,
com seus vestidos acinturados, suas saias rodadas, como se tivessem saído de um
cartaz daqueles filmes antigos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Cheguei nos Barris.
Tinha três anos, cabelos longos nunca cortados, olhos grandes cheios de
curiosidade. Minha tia sempre contava a minha chegada, era uma de suas
histórias preferidas. Ela dormia de tarde, sempre, e eu cheguei de tarde, no
meio do seu sono. Debrucei-me em sua cama e fitei-a com meus olhos grandes. Foi
amor à primeira vista. Minha tia me deu uma irmã, Martinha, que foi sempre
companheira e, muitas vezes, antagonista, como toda irmã deve ser. Dividíamos
tudo, guarda roupa e confissões.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Um apartamento
livre no andar de baixo selou meu destino nos Barris. Ali, no edifício Cardoso,
número 9, apartamento 202 da Rua Almeida Sande.<br />
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-XZf8-nM7vNo/ULCW7QlE7rI/AAAAAAAAACk/KWDTEb-zrn0/s1600/Barris086.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-XZf8-nM7vNo/ULCW7QlE7rI/AAAAAAAAACk/KWDTEb-zrn0/s320/Barris086.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Meu quarto
sempre foi o mesmo, aquele que dava para o Vale dos Barris que eu contemplava
de noite quando não tinha sono. Sempre tinha um bando de loucos que jogava bola
a qualquer hora do dia ou da noite numa daquelas ilhas entre avenidas
transformada em campo de futebol com trave e tudo. Dizia a lenda local que até
meu irmão Sergio fazia parte deles… No vale tinha também o estacionamento de
São Raimundo, que sempre tinha uma atividade inusitada tipo circo, show, evento
político, culto de igreja. Eu pude assim assistir todo um espetáculo de um
motoqueiro que se equilibrava com sua moto na corda bamba. Aquela noite foi
sensacional ! Meus pais não sabiam nada do meu interesse pelo
estacionamento de São Raimundo. Também pudera, eu não adivinharia hoje em dia
se fosse com minha filha, o que me faz pensar que eu devo ter perdido algo da
loucura infantil que me fazia acordar de noite para, simplesmente, observar o
vai e vem dos carros, que eram poucos, e que desciam daquela ladeira que vinha
do Garcia…</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Lembro daquele
quarto como se estivesse entrado nele ainda ontem com seus móveis 70’s laranja
choque. Minha mãe deixava também lá sua máquina de costura. Nunca soube por
qual razão ela tinha ido parar no meu quarto. Minhas cortinas eram da Disney,
com Donald e Margarida que eu conhecia de cor e salteado, faziam também parte
das minhas distrações noturnas. De manhãzinha, Donald e Margarida ainda estavam
a postos, e eu sentia aquela mão suave fazendo carinho no meu pé. Era minha mãe
que me colocava minhas botas ortopédicas antes mesmo que eu acordasse e ela
fazia tão delicadamente que quase nem me acordava. Os pés pesados de botas
caíam no chão e era aí que eu entendia que eu já estava calçada. Quando não
usava mais botas, era o cheiro do café que me acordava, aquele cheiro delicioso
de vida em casa e de carinho de mãe.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Naquela
apartamento tive um grande amor: meu cachorro Honey. Ele já vinha do Rio conosco,
mas eu o conheci ali, naquele apartamento, naquele bairro. Levava Honey pra
passear de tardinha, e aproveitava para explorar ao redor. Com ele me sentia
protegida, entrava em todas as ruas, fuçava tudo, como ele. Lembro da cor do
seu pelo, cor que deu seu nome, cor de mel. Lembro também que ele era invocado
e que adorava biscoitos cream-cracker. Num dos seus aniversários, demos um
pacote inteiro de biscoitos para ele de presente. Mas ele era meu amor, apesar
de um tanto antipático. Ele foi a primeira dor e a minha primeira saudade de
verdade. Lembro até hoje do meu robe rosa que vestia quando Seu Zé, zelador do
prédio, veio bater na porta de casa para avisar que meu cachorro estava caído
lá em baixo. Ele estava tão velhinho e já cego com seus 16 anos que não
entendeu que forçava para fora da varanda... Era somente o segundo andar, mas
foi demais pra ele assim tão velhinho, justo ele que passou a vida inteira ali,
mas um dia esqueceu tudo...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Minha escola
era também nos Barris, era uma escola de freiras. Elas eram muito enfezadas,
castradoras e, por isso mesmo, deliciosas, porque nada podia ser mais valioso
do que a irritação de uma delas. Não podíamos usar bijuteria, nem nada mais que
pudesse enfeitar o corpo. Claro, aqueles corpos cheios de desejos de toda sorte
não podiam ter voz nem espaço. O desafio era então conseguir passar pela irmã
Rocha com uma bijou qualquer sem que ela percebesse... Quando acontecia, ela
tomava, então a aposta era alta! Mas valia a pena. Uma vez ela bateu com seu
sininho na cabeça de um aluno. Dizem que sangrou, ou já era efeito do telefone
sem fio onde corria tais histórias. Decidimos então: tomaríamos aquele sininho,
e fizemos. Roubamos o danado num momento de distração e saímos correndo com ele
sacudindo e tocando dentro da mochila. Foi um êxtase místico!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Eu ia a pé pra
escola, e o meu caminho era a Ladeira do asfalto. Lá tinha a banca de Seu
Gorgani (bom, eu dizia assim…). Ali reinavam todos os meus pecados de criança.
Bala, chiclete, paçoquinha, pipoca doce (aquela do saquinho rosa), revistinha
da turma da Mônica, transfers e o ápice : as figurinhas. Podia ficar sem
comer na escola para poder comprar mais um pacotinho de umas míseras três
figurinhas, tentando, mais uma vez, conseguir aquela que faltava naquela
página, a última do álbum, aquela que ninguém tinha… Fiz tantos álbuns, sempre
tinha um novo, Sítio do Pica Pau Amarelo, Turma da Mônica, Sarah Kay...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
A ladeira do
asfalto era chamada assim porque destoava do estilo do bairro. Todas as ruas
por lá eram de paralelepípedo, menos a ladeira do asfalto, que, muito mais
tarde, mas muito mesmo, vim a saber que se chamava Rua General Labatut ou
Dionisio Cerqueira, nunca lembro. Aliás, todas as ruas por ali tinham outros
nomes, os nossos nomes: rua do meio, rua dos jardins, rua da padaria...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
A partir da
ladeira do asfalto, todas as ruas eram de asfalto. Era como se o mundo moderno
começasse ali, e que vivêssemos em outra época, ou talvez em outra dimensão, na
idade da pedra lascada em paralelepípedo. Aquela modernidade era ótima, muito
melhor para andar de bicicleta. Picula no paralelepípedo se chamava pé torcido
e a bicicleta ali dava tanto solavanco que só mesmo andando em cima da calçada.
Patins então, nem pensar....</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Não, patins
era no prédio ao lado, o Amapá, que tinha uma área livre no térreo com piso de
cerâmica que era perfeita para nossos ensaios. Mas o zelador não gostava nada,
nada daquela idéia... Ele precisava encerar aquela cerâmica vermelha depois das
nossas tardes de patins. Também era ótimo para « 1, 2, 3 salve todos »
e « Mamãe posso ir ? ». Era o nosso refúgio, sobretudo quando
chovia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Atrás do meu
prédio havia todo um universo paralelo que também fascinava : a roça do
lobo. Era assim que se chamava a favela que descia a encosta em direção ao Vale
dos Barris. Várias pequenas picadas entre os prédios davam acesso à favela e,
obviamente, o interesse que tínhamos por ela era inversamente proporcional à
aprovação dos nossos pais para que fôssemos explorá-la. Como ela descia até o
Vale, ela ficava bem debaixo da minha janela, o que me dava, em muitas
ocasiões, distração por muitas horas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
A roça do lobo
era bem animada com seus barracos armados, no sentido literal e figurado.
Muitas lajes onde as pessoas se escondiam dos demais da casa mas nos ofereciam,
a nós, espectadores das janelas, os mais fascinantes dos espetáculos. Muito
amor, muito ódio, muito menino empinando arraia naquelas lajes, muito cachorro
secando ao sol juntamente com as roupas, pelas quais se adivinhava o estilo e a
composição das famílias. O panorama sobre a favela era tal que, quando
infringia a lei e me aventurava naquelas picadas, sempre ficava o receio de ser
observada, de ser descoberta por algum delator, de ser pega no salto. Mas era
delicioso entrar por uma picada e descobrir sempre um novo caminho para sair em
outra. Foi na roça do lobo que tentei subir no meu primeiro e único pau de
sebo, também único lugar naquele bairro capaz de oferecer esses prazeres
facilmente condenáveis no mundo pequeno-burguês dos prédios e dos casarios
locais. Era também lá que conseguia me deliciar com bananas reais, cavacos,
sequilhos, capelinhas, geladinhos e abafabancas. Quase toda casinha, quase
toda portinha, quase toda janelinha vendia algo, fazia algo, oferecia um
serviço, um produto, um trabalho, uma macumba, era só escolher.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
O tempo
passando, fui ganhando o direito de explorar os territórios proibidos, como a
tão desejada rua da biblioteca. Mas antes disso, apesar de proibida, não nos
fazíamos de rogados e íamos, pelo simples gosto de desafiar a ordem, até a
biblioteca central, onde éramos amavelmente acolhidos a cada vez, como pequenos
selvagens que se interessassem inesperadamente pela leitura. Davam-nos livros,
levavam-nos até as poltronas confortáveis das salas de leitura, e nos fitavam
com olhos de missionários. Não entendiam que estávamos ali somente para
desafiar nossas respectivas figuras da autoridade. Muitas vezes conseguimos
entrar escondidos no cinema e vimos filmes, ou melhor, pedaços deles, porque o
interessante não eram os filmes em si, era o fato de estarmos lá dentro, só
isso. Até hoje, pagar nesse cinema me parece estranho, ele ainda tem um quê
familiar de quintal de casa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Nós éramos um
bocado, uma renca de meninos correndo, subindo em árvores, correndo, jogando
bola, correndo, pulando elástico, correndo, pulando macaquinho, correndo,
pulando corda, correndo, correndo, correndo... Eu, Marta, Gabriela, Angélica,
Andréa, Bia, Renata, Roberta, Márcia Piu-liu, Cida, Regina, Lúcia, Van-van, e
todos os outros de quem não consigo me lembrar o nome de jeito nenhum... Na
hora do almoço, do banho, do jantar, alguém gritava da janela: “ta na hora!”,
“volta!”, “sobe!” e aquela horda de selvagens se dissipava em alguns segundos,
claro, depois da dezena de repetições dos clássicos “já vou!”, “tô indo!”,
“peraí!”, “agora não!”... Era tudo muito simples, era tudo muito bom.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
A simplicidade
vivida ali tornava tudo mais verdadeiro, era ou não era, valia ou não valia,
amava ou não amava. Não usávamos marcas, não sabíamos nem o que era, não
estávamos nem de longe nesse faz de conta. Estávamos em outro, no faz de conta
da imaginação correndo solta, sem televisão, sem videogame, na rua, descalços
brincando, brigando, falando e fazendo bobagem…</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
As ambições de
cada um foram deixando tudo aquilo pra trás, como algo a ser ultrapassado, como
uma espécie de mundo interiorano a ser superado para ir mais longe. Mas longe
onde ? Longe pra quê ? E finalmente, depois de tantas andanças,
tantos encontros e desencontros, tantas despedidas e reencontros, estou sempre
ali, com todos eles, brincando descalços uns com os outros naquelas ruas de
paralelepípedo entre a rua do asfalto e a dos jardins.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Deixei os
Barris com 15 anos, já com outros desejos, e fui morar na praia, mas essa é uma
outra história…</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
Uma pequena
leitura a mais:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 34.0pt;">
<a href="http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/vivendo-polo.php?cod_area=1&cod_polo=59"><span style="color: #2d438b; text-decoration: none; text-underline: none;">http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/vivendo-polo.php?cod_area=1&cod_polo=59</span></a></div>
<!--EndFragment--><br />
<!--EndFragment-->Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16664600305123071045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6440536564752042134.post-90517092098952912162012-11-15T09:18:00.002+01:002012-11-15T09:18:35.227+01:00Encontros subterrâneos, pensamentos flutuantes
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<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Já estava quase atrasada e, como sempre faço quando isso acontece, corro
numa linha reta imaginária que me faz chegar onde quero sem ter que olhar para
os lados, sem saber se quem atravessou a rua comigo foi um velho, um cachorro
ou aquele príncipe encantado que mudaria minha vida para sempre... Lapso
de tempo numa outra dimensão que piora sensivelmente com o hábito de colocar
phones de ouvido com música alta. Aliás, música brasileira, por favor, é a
única que consigo digerir num sábado de manhã correndo no metrô para não chegar
muito atrasada e ainda por cima para ouvir falar de loucura. Hoje foi Lenine
com seu desejo martelo e sua vontade bigorna, como os meus nesse momento, que
me fazem sair da cama num sábado frio, interessada na loucura alheia.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Corri também pelas escadas, mas algo já me tragava fora do meu túnel
narcísico feito de pressa, música poética pernambucana e maluquice, minha e
deles. Fui dirigida, num segundo de calma, por um olhar enigmático e decidido,
que me olhava como uma pergunta: quem é você? Eu não saberia responder a essa
pergunta tão facilmente, mas ele, ele era um sikh.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-VWqWeiff3x8/UKSlNJHHzhI/AAAAAAAAACM/oEK94S1yL1g/s1600/dessin-sikhs.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="204" src="http://3.bp.blogspot.com/-VWqWeiff3x8/UKSlNJHHzhI/AAAAAAAAACM/oEK94S1yL1g/s320/dessin-sikhs.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Nunca tinha tido a oportunidade de me perguntar o que exatamente estaria
por tras daquele turbante. Dentro sei o que tem, e é cabelo. Muito cabelo,
cabelos longos de quem nunca os corta. É bem verdade que aqui na França, e
também no Brasil, os sikhs estão bem longe de constituir um grupo étnico
majoritário dentre os minoritários. Nem sei se posso afirmar ter encontrado
algum sikh anteriormente numa situação assim tão banal quanto essa de correr
para pegar o metrô. Talvez então tenha sido mesmo somente o fato de ter em
minha frente um sikh que tenha me extraído daquele torpor mental típico dos
apressados.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Saí da viagem pernambucana e, de repente estava lá, acompanhada de
Juliette Binoche cuidando de um paciente inglês sem nome lembrando de seu
grande amor perdido no deserto. Naquele filme, um dos meus preferidos e um dos
mais poéticos que já vi, Binoche se apaixona por um sikh de turbante branco,
soldado do exército inglês que desarmava minas alemães deixadas para trás num
último fôlego de ódio. Vi o sikh de Binoche naquele sikh, com a diferença que o
turbante que via era de um vermelho profundo, quase vinho.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Finalmente, fui buscar informações sobre o que é ser sikh. Eles usam
turbantes para proteger os cabelos que nunca cortam, proteger da poluição, da
chuva, do vento. Lembro que o sikh de Binoche usava azeite para cuidar das
madeixas... A palavra "sikh" vem do sânscrito e quer dizer
"estudante", enfatizando o aprendizado eterno do discípulo.
O "sikhismo" foi criado no século XV pelo Guru Nanak
que pregava a igualdade entre os homens, o que fazia dele um crítico da
sociedade de castas e das eternas lutas entre hindus e muçulmanos. Sikhs
são vegetarianos, monoteístas e atribuem à figura de Deus a
expressão mais bonita que já conheci: "O Verdadeiro Nome";
também acreditam em reincarnação e na necessidade de
reincarnar determinada pelo karma. O turbante não é uma obrigação
religiosa, mas os integristas, como sempre eles, usam e se autoproclamam
"puros". Os cabelos são um dom divino, e devem ser protegidos... A
maior parte dos sikhs, sobretudo os que se enraizaram em países ocidentais,
deixou de usar o turbante e cortou os cabelos pelos problemas usuais relativos
ao preconceito e, hoje em dia, relativos também à confusão entre eles e o
islamistas radicais, como os Talebans. Afinal, indianos hindus, sikhs,
paquistaneses muçulmanos, afegãos radicais, o ocidente tem mesmo muita
dificuldade com essas definições. Ainda lembro do primeiro dia em que peguei um
metrô em São Paulo e, parando na estação da Liberdade, disse a minha mãe:
quanto chinês!! O que, obviamente, foi acompnhado de um doloroso beliscão que
levei anos para compreender...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O olhar daquele sikh me interrogava sobre meu lugar e eu não sabia o que
dizer com o meu. Tentava me concentrar no Lenine que já cantava uma música
sobre uma mulher magra, tema que dificultava ainda mais a minha concentração.
Não consegui ver naquele olhar uma paquera, ou talvez isso seja efeito do
abismo cultural que nos separava naquele momento: eu, mulher branca perfumada
de Chloé, sombra dourada nos olhos e música nos ouvidos em típica ocidental;
ele, sikh vindo de sei lá Deus onde e, por não saber, imediatamente colado ao
estereótipo do bom selvagem incarnado naquele lindo sikh de Binoche. Mais do
que lindo, salvador de vidas alheias, apesar dos perigos que corria com sua
própria. Não pude deixar de achar que ele era digno, mais do que isso, heróico.
Finalmente, meu olhar deve ter deixado escapar minha admiração.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Entrei no metrô e me perguntei: e ele? Com qual estereótipo fui
identificada? Em qual prateleira fui guardada? Nunca saberei... Esperei do
fundinho do coração que aquele sikh tenha pensado em Kristin Scott Thomas
em européia elegante perdendo as estribeiras e a razão por amor
naquele mesmo filme...</div>
<!--EndFragment-->Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16664600305123071045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6440536564752042134.post-2443603018148325342012-11-12T09:11:00.001+01:002012-11-15T08:43:19.969+01:00Organised Housewife???? OMG!!!!!<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Hoje dei um “like” numa página no
Facebook que me fez pensar... Ela se chama <i>Organised
Housewife</i>, com muitas dicas de como ser uma boa dono-de-casa, um saber todo
estruturado e organizado como em artigos universitários. Um dos tópicos
postados me fez rir: uma cleaning checklist para ajudar a fazer faxina... Sim,
faxina, do tipo: comece por ali, faça isso e aquilo, depois passe para lá,
etc., etc. E você vai marcando: banheiro? Checked! Privada? Checked! Pia?
Checked! E depois você muda de universo: Panelas? Checked! Geladeira? Checked!
Armários? Checked!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-mA4g6yEywhQ/UKCu18XLB5I/AAAAAAAAABg/8DVQ2IIaAZo/s1600/vassoura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-mA4g6yEywhQ/UKCu18XLB5I/AAAAAAAAABg/8DVQ2IIaAZo/s320/vassoura.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">De
fato, ela não deixa esquecer nada, mas é preciso, primeiro, querer se
lembrar...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> Não
é nada mau, no fim das contas, para marinheiros de primeira viagem como eu, mas
é um tanto irritante para o meu lado feminista de ver que são sempre as
mulheres que estão investidas nesse papel. Enfim, a página não se chama <i>Organised House... husband </i>(??), que na
verdade nem existe na língua inglesa, assim como não existe na nossa o <i>dono-de-casa</i>... Muito pano pra manga essa
discussão...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> Mas
não era nela que queria entrar não. Era no fato de que essa checklist dos
infernos me ajudou... Caramba! Eu, assim, toda feminista??? Sim, porque a
xícara do café da manhã não dá a mínima pro fato de que me digo feminista e ela
fica lá, impassível, esperando minha volta do trabalho, quando o sol já se pôs
faz tempo... E já observei que todos os objetos caseiros agem do mesmo modo
cínico. Ficam bem lá, no mesmo lugar, nem piscam os olhos. Só esperam... Quase
posso ver o sorriso de satisfação deles quando abro a porta de casa me dizendo:
eu vou te dobrar!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> E
dobram! Porque eu chego e começo a colocá-los todos nos seus devidos lugares,
mas já é sempre tão tarde e já está quase na hora de começar a tirá-los todos
dos seus lugares de novo... Essa batalha não termina...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> E
começo a me dar conta de que existe aqui, nesse universo paralelo da casa, toda
uma organização e toda uma ciência de que não tinha o mínimo conhecimento. E o
conhecimento aqui é necessário para que essa guerra de nervos não leve os seus
embora com ela...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> Vamos
lá então para o grito profundo e mais intenso do dia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> EU
PRECISO ME TORNAR UMA ORGANISED HOUSEWIFE!!!!!!!!!!!!!!!!!!<o:p></o:p></span></div>
<!--EndFragment-->Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16664600305123071045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6440536564752042134.post-39908817367970012172012-11-11T22:30:00.000+01:002012-11-15T08:45:42.447+01:00Dois e dois são cinco...<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT-BR">A vida dá certamente um apanhado de
voltas, mas nem sempre estamos atentos a elas. Ela vai indo, vai indo, até que,
um dia, deparamo-nos com uma realidade diferente, com pessoas que não
reconhecemos mais tão bem quanto antes e, muitas vezes, não nos reconhecemos
mais nós mesmos…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span lang="PT-BR">Foi assim que, um dia, enxerguei
minha própria vida. Muita água tinha passado sob a ponte e eu não tinha nem
notado... Não havia notado que já era diferente...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 1.0cm; margin-top: 0cm;">
<span lang="PT-BR">“Meu amor, tudo em volta está deserto, tudo certo... Tudo certo como dois
e dois são cinco...”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT-BR">Deixei a onda me levar em meio a
esse sentimento de estranheza e fui descobrindo prazeres inusitados. Fui
sobretudo vivendo o dia-a-dia, não como um passar infindo de dias, mas como ele
é: um dia de cada vez. Quero agora ver cada gota dessa água que passa sob minha
ponte, quero ver dias nascendo e morrendo sem ser devorada por eles, ou
anestesiada, o que seria ainda pior...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT-BR">Beleza e poesia procuramos,
procuramos, procuramos... E se elas estivessem logo ali? Logo aqui? Logo agora?<o:p></o:p></span></div>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT-BR">Esse é um blog feito com a intenção
de dividir estas descobertas pequenas e diárias que fizeram com que meus olhos
enxergassem muito além do que puderam me dar os muitos saberes acadêmicos que
colecionei. Ou muito aquém... De todo modo, fora dos seus campos de visão.
Campos para os quais dirijo, hoje, meu olhar, e com incontestável e
incomensurável prazer... Sem pretensões, senão a de cultivar a simplicidade
desses momentos.<o:p></o:p></span></div>
<!--EndFragment--><!--EndFragment-->Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16664600305123071045noreply@blogger.com1Paris, France48.856614 2.352221948.773036 2.1942934 48.940192 2.5101504